quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Adoração na igreja evangélica contemporânea


Há dois tipos de música: a boa e a ruim seja ela erudita, mpb, sertaneja, reggae, rap, rock ou gospel. O que me surpreende é a capacidade do mercado absorver música ruim. Com a proliferação de compositores, interpretes, bandas e gravadoras o cenário evangélico não poderia ser diferente. Tem música boa, mas também tem muita música ruim.

Passamos séculos louvando a Deus com hinos históricos da Reforma, bastava um hinário, e tínhamos uma música com letras densas, boa teologia, e linha melódica e métrica harmoniosa.

Nos últimos anos surgiu o que chamamos de louvorzão, jogamos fora os hinários, a liturgia, aposentamos o piano e o coral e introduzimos a guitarra, a bateria, o data-show, as coreografias e a aeróbica. Surgiu também a figura do dirigente do louvor, responsável para animar a congregação. Daí para frente têm muito barulho, muitas palmas, muitas mãos levantadas, muitos abraços, muitas caretas e cenho franzido. Mas a pergunta que fica é: temos adoração?

O lado positivo do louvorzão é o interesse e a integração na igreja de milhares de jovens que, atraídos pelas bandas e pela euforia dos cultos, enchem os templos. Trata-se de uma oportunidade única para ensinar estes jovens, através do exemplo e da Palavra o caminho do discipulado de Cristo. Mas fica a pergunta: estarão estes jovens crescendo na santidade e no serviço?

Alguns cultos se tornaram verdadeiras produções dignas da Broadway. Músicos profissionais, cenários, bailarinos, iluminação chegam a rivalizar com os shows de artistas conhecidos. A idéia é que uma produção caprichada com interpretes competentes gera uma verdadeira adoração. Novamente fica uma pergunta, toda esta parafernália cênica tem levado o povo de Deus a uma genuína adoração?

A história da Igreja é rica em manifestações artísticas. Ao longo do tempo o louvor foi expresso através de várias expressões musicais. O canto gregoriano, o barroco, os hinos da Reforma, o negro spiritual e os cânticos contemporâneos deixaram sua contribuição à boa música ao longo destes últimos séculos.

Trata-se, portanto, de um equivoco jogar fora toda a herança histórica e achar que esta geração descobriu a forma certa de louvar. Se olharmos do ponto de vista musical veremos que a história nos legou uma herança preciosa. Na cultura gospel do louvorzão tem muita música ruim, muita letra questionável, e muito dirigente de louvor que mais parece um animador de auditório.

A igreja pode ser a ponte entre as gerações, entre o antigo e o novo e integrar na adoração tudo que há de bom na sua herança histórica. Tem muita gente já cansada do louvorzão barulhento de letras rasas, de bandas que tocam no último volume, das coreografias esvoaçantes e das ordens do dirigente para abraçar o irmão da frente, de trás e do lado dizendo que o amamos. É constrangedor abraçar alguém e dizer que o amamos quando sequer o conhecemos.

A igreja perde quando o dirigente do louvor, o data-show, a coreografia e os solos de guitarra se tornaram mais importantes do que o cântico congregacional. Ou seja, quando a ênfase do louvor se desloca da congregação para o palco. Com raras exceções a música é ruim, a letra não tem nada a ver com a realidade do cotidiano ou a teologia reformada e a performance no palco é apelativa.

A igreja perde quando se torna parecida com um programa de auditório e não cultiva mais a boa música com cordas, sopros, bons arranjos, corais, quartetos. Mas a igreja perde muito mais ainda quando a adoração se torna um evento estimulado sensorialmente e não uma melodia que emerge de um coração quebrantado e temente a Deus. Adoração é sempre uma resposta humilde, alegre, reverente àquilo que Deus é e faz. Adoramos porque algo aconteceu, algo nos foi revelado, e não o contrário como pensam alguns: que é porque adoramos que recebemos a revelação e as coisas acontecem.

A igreja perde quando não há reverência ou temor, o que resta é euforia, excitação e sensações prazerosas. O que é bom em si mesmo, mas não é necessariamente adoração.

É um equivoco pensar que Deus se impressiona com nossos cultos de domingo. Ao contrário, Ele acolhe muito mais nossos gestos simples do quotidiano, frutos de um coração humilde e quebrantado, que busca se desprender de ambições e serve ao próximo com alegria. Adoração não é um evento domingueiro bem produzido, mas um estilo de vida que glorifica ao Senhor.

Durante séculos a arquitetura das igrejas e das catedrais destinou o balcão posterior para o coro, o órgão e a orquestra. Na igreja da Reforma os músicos e o coro se posicionavam na parte da frente da nave, mas sempre ao lado. Mesmo o púlpito não estava no centro, mas ao lado. No centro havia, quando muito, alguns símbolos da fé que ajudam a despertar a consciência para a experiência do sagrado, com destaque para a mesa do Senhor. Era a congregação face ao altar de Deus, nada se interpondo entre a Santa Presença e a congregação. Este lugar só pode ser ocupado por Jesus Cristo, ele é o único mediador, ele é o único que pode dirigir o louvor.

Hoje o que se vê é o apóstolo, o bispo, o pastor, o dirigente de louvor e a banda ocupando este lugar, nos levando de volta à Antiga Aliança quando sacerdotes e levitas eram mediadores entre Deus e os homens. A conseqüência é uma geração de crentes que dependem de homens, coreografias e data-shows para adorar e para ouvir a voz de Deus.

O verdadeiro pastoreio consiste em ajudar homens e mulheres a dependerem do Espírito Santo para seguirem a Cristo que os leva ao seio do Pai. Ajudar homens e mulheres a crescerem e amadurecerem na fé, na esperança e no amor, integrando adoração, oração e leitura das Escrituras no seu quotidiano.

A contextualização se tornou uma armadilha na qual a igreja caiu, na sua tentativa de se identificar com o mundo ela ficou cada vez mais parecida com mundo. A cultura gospel é auto centrada, materialista, se acha dona da verdade, tornou-se uma religião que nos faz prosperar, que não nos pede para renunciar a nada e que resolve todos nossos problemas. Há um abismo colossal entre a cultura gospel e o Evangelho de Jesus Cristo, que nos chama a amar sacrificialmente o nosso próximo, a cultivar um estilo de vida simples, a integrar o sofrimento na experiência existencial e a ter a humildade de ser um eterno aprendiz.

Estas reflexões já estavam fervilhando no meu coração há algum tempo. Pensei que estas coisas só aconteciam em certas igrejas, mas o que me motivou mesmo a colocá-las no papel, foi ter participado de um culto numa igreja Batista da Convenção.


Osmar Ludovico da Silva



quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Adoração ou Aberração? O que tem acontecido com o louvor das igrejas?


Como já dizia certo poeta: a música é a melodia da alma. Ela altera nosso estado de espírito. O corpo reage às vibrações dos sons e são despertadas emoções que interferem no funcionamento de nosso organismo. Existem teorias que comprovam as reações de células e órgãos através destas emoções que são deflagradas. A música pode alterar e liberar partes reprimidas inscritas em nosso corpo

Sem sombra de dúvidas a música é algo que mexe profundamente com o ser humano. No meio cristão temos passado por um momento, digamos, delicado em relação à musicalidade.

Nunca se ouviu tanta música, nunca se viu tantos “artistas gospel”. A igreja tem sido bombardeada a cada dia por um turbilhão de músicas, bandas, grupos, ministérios, corais, solos, duetos, quartetos, sextetos...

Não existe nenhum problema com o surgimento de tais grupos (e muitos dos grupos e cantores de hoje são profundamente usados pelo Senhor). O problema se encontra no conteúdo cantado por alguns. A busca por uma igreja cheia tem levado pessoas a aderirem às modas musicais. O que geralmente importa é entreter o público não interessando muito a letra das músicas. O que geralmente importa é dar balanço frenético aos corpos sem que as pessoas percebam o que estão cantando. Este é um fato nos nossos dias! O oposto desta realidade é encontrado nos hinos do passado (p.ex.: HCC e HC), que na sua maioria têm letras profundas que edificam a igreja e exaltam o Senhor.

Quando a Igreja se reúne em um culto, o propósito não é o de se ter um período abençoado, buscar prazer espiritual ou mesmo de receber bênçãos específicas, mas seu objetivo é o de adorar o Senhor por Sua majestade e senhorio, de manifestar gratidão por Suas bênçãos.

A Igreja não louva para agradar a si mesma ou porque é agradável a ela ser visitada pelo Espírito Santo, mas louva para agradar ao Senhor, que é o foco, o centro, a razão e o motivo único do culto. A preocupação principal da Igreja em um culto deve ser agradá-Lo.

Em nenhum lugar na Bíblia se diz que os crentes devem louvá-Lo da forma que os agrada. Todos os ensinamentos bíblicos mandam adorá-Lo como Ele quer. “Deus busca adoradores que O adorem em Espírito e em verdade”. A verdadeira adoração tem que ser dirigida pelo Espírito Santo, de forma que exalte somente a Deus.

Quando lemos o livro de Salmos — que, de fato, é o principal referencial na Bíblia sobre a música e o cântico de adoração a Deus — percebemos que, de maneira geral, as composições bíblicas possuem as seguintes características:

  1. O salmista dirige palavras de louvor e oração diretamente a Deus (3.7; 6.1; 7.1; 9.1; 30.1, etc.).
  2. O salmista fala de si, mas em relação à grandeza do Senhor (18.2; 23.1; 42.1; 73.2,23; 103.1; 104.1, etc.).
  3. O salmista menciona a magnificência de Deus, mas sem dirigir-se diretamente a Ele (19.1; 24.1, etc.).
  4. O salmista estimula a todos a louvarem ao Criador (95.1; 107.1; 112.1; 113.1, etc.).

  5. O salmista menciona a bem-aventurança que existe para o justo, que serve a Deus, em contraste com o ímpio (1.1,2; 36.1, etc.).

Apesar destes ensinamentos, em alguns movimentos cristãos, há ainda o entendimento de que o período de louvor deve ser agradável à igreja, onde os membros devem se divertir, terem prazer, sentir-se bem. É por isso que há o incentivo em muitos locais para os crentes fazerem o que lhes agrada durante o período de louvor. Claro que uma adoração verdadeira e consciente fará bem a alma do adorador, mas a idéia em questão é quando as pessoas buscam cantar apenas para se sentirem bem sem se darem conta do que estão fazendo. Cantar porque é bom, é terapêutico (afinal de contas, quem canta seus males espanta!), não porque é uma forma de louvar a Deus pelo que Ele é e faz.

Entretanto, a sensação da presença de Deus, a alegria e o amor que enche seus corações deve ser só um subproduto da verdadeira adoração e não a finalidade. Devemos nos regozijar porque o Senhor está sendo exaltado e porque Sua graça está sendo anunciada, não porque gostamos de nos sentir bem.

A igreja deve estar alerta para cantar hinos que contenham uma mensagem profunda, apresentem um conteúdo mais espiritual que edifique o crente e que também o estimule a adorar; ou seja, um hino através do qual o Espírito Santo possa operar da sua maneira no coração do crente.

Equipe Fé em Foco

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mordaça Gay


Porcaria de lei

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 24 de maio de 2007

Ilustres senhores parlamentares: Vossas Excelências podem votar, se quiserem, essa porcaria de lei que proíbe criticar o homossexualismo. Podem votá-la até por unanimidade. Podem votá-la sob os aplausos da Presidência da República, da ONU, do Foro de São Paulo, de George Soros, das fundações internacionais bilionárias, do Jô Soares, do beautiful people inteiro.

Não vou cumpri-la.

Não vou cumpri-la nem hoje, nem amanhã, nem nunca.

Por princípio, não cumpro leis que me proíbam de criticar ou elogiar o que quer que seja. Nem as que me ordenem fazê-lo.

Não creio que haja, entre os céus e a terra, nada que mereça imunidade a priori contra a possibilidade de críticas. Nem reis, nem papas, nem santos, nem sábios, nem profetas reivindicaram jamais um privilégio tão alto. Nem os faraós, nem Júlio César, nem Átila, o huno, nem Gengis Khan ambicionaram tão excelsa prerrogativa. O próprio Deus, quando Jó lhe atirou as recriminações mais medonhas, não tapou a boca do profeta. Ouviu tudo pacientemente e depois respondeu. As únicas criaturas que tentaram vetar de antemão toda crítica possível foram Adolf Hitler, Josef Stálin, Mao-Tse-Tung e Pol-Pot. Só o que conseguiram com isso foi descer abaixo da animalidade, igualar-se a vampiros e demônios, tornar-se alvos da repulsa universal.

Nada é incriticável. Quanto mais o simples gostinho que algumas pessoas têm de fazer certas coisas na cama.

Nunca na minha vida parei para pensar se havia algo de errado no homossexualismo. Agora estou começando a desconfiar que há. Nenhuma coisa certa, nenhuma coisa boa, nenhuma coisa limpa necessita se esconder por trás de uma lei hedionda que criminaliza opiniões. Quem está de boa intenção recebe críticas sem medo, porque sabe que é capaz de respondê-las no campo da razão, talvez até de humilhar o adversário com a prova da sua ignorância e má-fé. Só quem sabe que está errado precisa se proteger dos críticos com uma armadura jurídica que aliás o desmascara mais do que nenhum deles jamais poderia fazê-lo. Só quem não tem o que responder pode pedir socorro ao aparato repressivo do Estado para fugir da discussão. E quanto mais se esconde, mais põe sua fraqueza à mostra.

Sim, senhores. Nunca, ao longo dos séculos, alguém rebaixou, humilhou, desmascarou e escarneceu da comunidade gay como Vossas Excelências estão em vias de fazer.

As pessoas podem ter acusado os homossexuais de fingidos, de ridículos, de tarados, de pecadores. Ninguém jamais os qualificou de tiranos, de nazistas, de inimigos da liberdade, de opressores da espécie humana. Vossas Excelências vão dar a eles, numa só canetada, todas essas lindas qualidades.

Depois não reclamem quando aqueles a quem essa lei estúpida jura proteger se tornarem objeto de temor e ódio gerais, como acontece a todos os que tomam de seus desafetos o direito à palavra.

Quem, aprovada a PLC 122/ 06, se sentirá à vontade para conversar com pessoas que podem mandá-lo para a cadeia à primeira palavrinha desagradável? Os homossexuais nunca foram discriminados como dizem que o são. Graças a Vossas Excelências, serão evitados como a peste.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Exemplo dos Bereanos!

“E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim”. (At 17: 10-11)


No sopé dos Montes Olímpios, na atual República da Macedônia, parte integrante da Iugoslávia até bem pouco tempo, existe uma pequena cidade chamada Verria. Na Bíblia há uma única referência a essa cidade, porém com outro nome: é a antiga Beréia, distante 80 quilômetros a sudoeste de Tessalônica.

Na metade do primeiro século, em sua segunda viagem missionária, o apóstolo Paulo e seu companheiro Silas, anunciaram o evangelho com muito êxito tanto na cidade de Tessalônica, como em Beréia.

De acordo com o texto de Atos, Lucas, o primeiro historiador da expansão do cristianismo, fez questão de registrar que os bereianos eram “mais nobres” que os tessalonicenses. Esta observação se deu porque aqueles “receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim...” (At 17.11). A resposta que estes novos convertidos davam à pregação missionária não era meramente emocional. Passava tanto pelo coração como pelo intelecto.

Analisando as palavras gregas traduzidas como “avidez” e “examinando” temos que, avidez do grego "protmias" significa literalmente “de bom grado”, ou seja, houve uma boa disposição por parte deste povo em ouvir o que era pregado por Paulo e Silas, que naquela ocasião eram homens desconhecidos para aqueles ouvintes. Quanto à palavra “examinando” do grego “anakrinondes" trata-se de fazer uma pesquisa cuidadosa, como num julgamento legal. Também pode ser traduzido noutros textos como: perguntar, julgar, exigir prestação de contas, investigar, conduzir uma investigação (Lc 23:14).

Para os bereianos, que não conheciam nem Paulo nem Silas e ainda estavam ouvindo algo novo (o Evangelho – a mensagem sobre Jesus e sua ressurreição), essa atitude de ouvir cuidadosamente e avaliar tudo segundo as Escrituras era algo que demonstrava bom senso e maturidade.

Uma citação do livro de J. Stott [1] do Dr. John Mackay, antigo presidente do seminário de Princeton, dispõem que “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação (...)”. Ela ensina sobre o engano de acatar no coração uma crença sem nenhuma reflexão. É dito que tal atitude é fanatismo em ação. Os bereianos não cometeram esse erro!

Em nenhum outro tempo, os meios de comunicação foram tão variados e disponíveis como hoje, e, nunca houve tamanha liberdade em falar e escrever o que se quer. Por meio de recursos como televisão, rádio, internet, etc., o crente recebe por dia um sem número de “informações teológicas” e a maior parte deles as absorve sem qualquer tipo de análise prévia. A ausência deste exame criterioso tem gerado um crescimento assustador de igrejas doentes além de uma enxurrada de denominações cristãs duvidosas.

Passados 20 séculos de história, os crentes de Beréia são o nosso principal exemplo na busca de uma fé sólida e o mais próxima possível da Revelação através do exame ávido do que se escuta tendo como ponto de partida a Bíblia.


Equipe Fé em Foco

[1] Crer é também pensar, J.Stott, pág.
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